domingo, 22 de maio de 2016

Tanto me ocorreu que não cabe aqui lamurias. O filho pródigo, à casa sempre retorna.
Vez ou outra dá saudades de escrever. Já li tanto depois de 2014. É verdade que nada mais publiquei. Quem sabe poderemos retomar de onde paramos?

Blog, blog meu,
Quem um dia lhe escreveu?
Aqui retorno, oh meu blog
Para falar do que se perdeu.

Ou falar de presente, futuro, e porque não de poesia. Vou aos poucos dando espaço as poesias de meu filho. Prometo mandar-lhes em doses homeopáticas suas conjeturas da vida, releituras de Poe e outras reflexões. Mando-lhes duas:

É uma estrofe de Drummond pra cá
Dois versos de Itabira pra lá
Outro dístico corrosivo acolá
Eu não sou Drummond,
Mas também quero tentar

1. Poesia Nasce, Brinca, Prevalece. Depois morre.

Ai, Drummond, Drummond
Tu estás errado!
Afirmo-te, veementemente,
Às dez horas da manhã,
Na capital do meu país
Tu estás equivocado!
Outras poesias nascem

Que história é essa
De lutar com as palavras?
Prélio, corte, faca, sangue
Nas palavras, Drummond, não se bate
Nem com uma flor,
Ainda que Rosa

Ai, Drummond, com as palavras
Se brinca
Que história é essa de labuta?
Tu pareces um capitalista, louco
Pra expropriar a mais-valia
Do Verbo
Da Parole
Sóbrio,
Translúcido,
Obcecado

Drummond, tu és teimoso
Feito minério do teu quadrilátero
Algonquiano
Sem pão de queijo, Drummond,
Não há Café
Que sustente o país

Ao invés de gladiar com a chave,
Insanamente,
Perguntando-me se a trouxe,
Não é muito mais divertido
Brincar de procura-la?
E daí se no lugar da resposta
Encontrarmos sós
Pamonha?

Lambuza-te, Drummond,
Com chocolates portugueses
Mistura o mineiro milho
Àquela dose de aguardente
Do Tio Cláudio,
Da mercearia do Menezes
Sim, a que fica em
Salinas, Mariana, Tiradentes
E, finalmente,
Sorri-me num Retrato
De família

Mas tu só choras, lamentas,
Corróis
Tal qual teus vermes
Tu não amas, Drummond,
Os doces meio-amargos?

Vou até teu caixão,
Ai, Drummond,
Pra ver se te ressuscito
Eu e o meu Corvo
Do Edgar Allan Poe
Sabias que hoje existe
A Delegacia da Mulher?

Se ao menos no teu tempo houvesse
Uma delegacia das Palavras
Tu não batias tanto nelas
Eu, então, denunciava-te
Refutava-te!
Drummond, vate!
Poeta, vai-te!
Bardo! Aedo!
Servo de Apolo,
O Febo!

Ai, Drummond,
Porque essa obsessão com tanto
Barco?
Vamos agastar o ferro de Itabira
Até que vire Tobogã!
Uma Pessoa contou-me
Que pra cruzar o Bojador
Era preciso saber nadar
Passar além da dor
Ter peito de remador
E coração de elefante

A língua de Camões?
Tu nem roças, nem vês as cidades
Decide-te, Drummond,
Há veracidade
Nos teus versos?
Só vejo bons bois há tempos.
Ruminando, ruminando
Não era pra carpir? Talhar?
Porque mudou de opinião?

Olha pra ti, Drummond,
Todo podre, morto, enterrado
Não te deixaram nenhuma embarcação,
Nem um livro de García Lorca,
Ni los Versos del “Alma Ausente”
Los que tanto te gustaban

Não rimaste sono com Outono
Agora dormes em Inverno
O ano todo
Ai, Drummond,
Não escutastes o que disse
Aquele outro poeta
Esse, sim, cruzou o Oceano
Brincou de ciranda
E de poesia
Fez comidinhas para o Amor
Respirou Música
Maresia
Pois muito breve, Drummond,
É a vida.

2. Mas por que me vem isto de Carvalho e de Pedra?

Os signos têm ficado
Com seus significados
Muito engraçados
E o que significa?

Se sem significantes,
Ficam surdos, dissonantes
Se sem significados,
Nem conceitos têm ficado

O total das idades
É uma totalidade que maltrata,
Caduca e abstrata, os fatos.
Faze tua idade mera fatuidade.

Aos 15 anos, és barulhento. Sonoridade?
Ter 30 anos é fatal? Fatalidade?
Com 60 anos? Tu és cimento? Esquecimento?
Aos 90, bem garboso. Garbosidade?

Quando o signo signo fica?

As palavras sempre revelam
O que os signos astuciosos velam
Seus significados, ao vê-las,
Nossas velas os iluminam

E, assim, seus véus desvelam
Significantes, Significados
Signos insignificantes
Significativos têm se mostrado

Mas por que me vem isto de Carvalho e de Pedra?

Em Hesíodo, na fenda arcaica,
Pedra-carvalho se fundem
Ao serem nume-nomes,
Alegremente, nos confundem

Alumbramento.

Acá, o ar, arcaicamente,
Cai co’a mente, e ares
Antigos não mentem. Têm-me
Confuso. Designo fusos

D’outros mares.
Dê signos inefáveis.
Duvido. Do olvido
Desígnios amáveis

São afáveis aos meus ouvidos.
Significantes, feito viajantes,
Sonoros, vão passando.
Serão amantes, serão ficantes?

Passarinhos? Passarão?

Serão nefandos? Talvez conotáveis?
É preciso dizê-lo. Com signos,
Há que ter zelo. Prestimoso?
Sê-lo.  E de zelos consignados e denotáveis

Ouvimos rimas dos notáveis
Que podemos copiar.
Ri, mas de notáveis, não cabe,
Por demos olvidados, duvidar.

Ou vimos a pedra bater no carvalho?
Era pedra, ou era orvalho,
No meio do caminho?
O que nomeio no pergaminho?

Combater o itabirano? Que jeito?
É só pedra, soco, murro...
Signo nenhum dá conta do significado.
Pelo caminho os significantes têm ficado

Eternamente a reverberar.
E, ternamente, começo a berrar
Que não há mais carta no baralho.
E a Hesíodo, inutilmente, tenho perguntado:

Signo, Significante, Significado,
Mas por que me vem isto de pedra e de carvalho?

 3. Flor Felicidade
 (Felicidade em Frô Maior)

“Felicidade é uma frô difice di s’encontrá
É a saudade, é a dor: essa frô tão singulá
Qui si’um dia nos fog’então essa tal Felicidade,
Nunca mais nos sai das mãos o perfume da saudade”


 GILBERTO MARQUES ARSIOLLI JÚNIOR. 
  
 Espero que por hoje seja a dose certa. Afinal o mundo carece de poesia. See you. Dôra.















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