quarta-feira, 31 de julho de 2013

Versão contos de fada para Quatro pães e uma cebola

Quatro pães e uma cebola, versão contos de fada moderno.
By Dôra Arsiolli
Todos começaram a receber um estranho SMS, sem nenhuma identificação. Primeiro Peter Pan, em seguida o gato de botas, lobo mau, Chapeuzinho, João e Maria. Não tardou a chegar à côrte: Cinderela, Bela Adormecida, Branca de Neve. A mensagem era a mesma: encontro no meio da floresta à meia noite.
- Como assim? Pensaram. No meio da floresta e à meia noite só podia ser coisa de bruxa.
- Nós não vamos, disseram as princesas.
- Só se for para matar bruxa, disse João e Maria que àquela altura tinham virado caçadores de bruxas.
- Seria o Capitão Gancho armando pra cima de mim? Perguntou Peter Pan.
Conjeturas daqui e dali. A curiosidade matou o gato, pensou, então, o felino:
-Mas eu nem ligo, quero mais ver no que isso vai dar.
Tamanho foi o burburinho causado por tal SMS que todos deixaram suas preocupações de lado, ligaram o GPS e partiram para o local do encontro. Afinal curiosidade de personagem de conto de fadas é igual ao de gente de verdade.
As princesas tinham razão. Era uma reunião de bruxas. Mas as bruxas estavam modernas, com Smart TV e acompanhavam tudo que se passava na vila.
Todos ficaram penalizados, era de dar dó, tamanha isolação das bruxas. Todas falavam ao mesmo tempo e não se entendia nada. Foi quando o lobo mau se apressou e perguntou:
- Afinal, o que está acontecendo com vocês?
Uma bruxinha de cabelos verdes tentou explicar.
- Há dois tipos de bruxas: as boas e as más. Não somos más. Somos do bem. Acreditem, mas as bruxas más não nos deixam viver entre os homens e ajudá-los e para nos castigar, roubaram nossa poção mágica do bem e esconderam em alguma casa na vila.
Confusões à parte, alguém teve uma idéia:
_ E se seguíssemos o rastro do caldeirão? Sugeriu João.
- Não é 51, mas é uma Boa idéia, disse Maria.
- Nos dividimos em grupo e quando alguém tiver uma pista, dá um sinal pelo smart phone. Sugere Peter Pan.
Corre daqui, corre dali. Sobe morro, desce morro. Olha, procura e revista. Ufa, já cansou esse negócio. E eis que todos chegam ao mesmo ponto. A casa dos três porquinhos, que depois das outras duas serem destruídas pelo Lobo, ficaram todos na casa do porquinho mais velho. Deixa comigo, grita o Lobo mau:
- Eu vou soprar e bufar até derrubar a sua casinha.
Nisso, um telão abre e um dos porquinhos anuncia:
- Deixa de ser besta que esta casa é de proteção máxima, além do mais, só abre ou fecha com as nossas vozes.
Como vocês podem ver, era uma smart house. Eita mundo pra ser tudo smart. Enfim. Foco.
- Por favor, abram, precisamos conversar com vocês. Gritaram todos.
- O que vocês querem? Isso aqui não é a Câmara dos Deputados pra tanta algazarra.
- Procuramos pelo caldeirão da bruxa, disse Bela Adormecida. Por acaso vocês não o teriam visto?
- E podemos saber por quê? Perguntaram os três.
- Estávamos fazendo uma poção para ajudar os humanos, quando a bruxa má, passou por nosso bosque e roubou o caldeirão. O problema é que faltam dois ingredientes importantes para finalizarmos. E quem pegar ou comer, ficará encantado por 10 anos. Confirma a bruxinha de cabelos verdes.
- E, qual seriam os dois?
- Quatro pães e uma cebola.
- Oh não. E desmaiaram os três.


4ª versão de quatro pães e uma cebola by Lucimar

Quatro pães e uma cebola
Por Lucimar Rosa Dias
Ela estava muito interessada em olhar os detalhes daquele vestido à sua frente, mas ficou um pouco envergonhada em olhar fixamente para a mulher que o trajava, então disfarçava sempre que percebia algum movimento por parte da dona do traje.
A roupa não era propriamente diferente, mas havia nela algumas figuras que a intrigaram e a distância em que se encontrava não lhe permitia distingui-las muito bem. O efeito delas no tecido que tremulava com o suave vento daquela manhã era muito bonito e fê-la divagar um pouco e relembrar seus tempos de infância e as festas de quadrilha que frequentava.
Bandeirolas coloridas por toda parte, vestidos rendados dos mais variados jeitos, calças com os remendos de tantas cores que ela nem podia contar! Os chapéus tinham uma variedade incrível. A lembrança lhe trouxe também cheiros e sabores destas festas... milho verde fumegante, pé de moleque, arroz carreteiro... humm... humm ... 
A mulher do vestido levantou os braços para pegou uma flor no alto da Primavera, lindamente florida. Esse movimento lhe tirou da divagação e a fez concentrar-se novamente nas figuras do tecido. Apostou, consigo mesma, que eram pássaros voando o que aquela senhora tinha a enfeitar o vestido. Mas, como poderia se não havia nenhum céu em sua roupa?
E novamente seus pensamentos a levaram à infância de ontem... um céu azul, um sol brilhante e as pipas coloridas “pipocando” no ar. Ela gostava de ver aqueles pássaros de papel a voar. Mas no seu tempo, soltar pipas era coisa de menino, então, era preciso alguma estratégia para alcançar esse objetivo. Sempre ficava por perto e quando um dos meninos precisava de alguém para segurar a sua pipa enquanto ele pegava algo ou então ia fazer “necessidades” ela estava de prontidão. Nessas horas assumia a linha e sentia a magia que fazia os meninos correrem enlouquecidamente atrás de pipas caídas e das muitas horas gastas nesta brincadeira ... a sensação de comando era mesmo incrível.
De repente ela vê que a dona do vestido desiste de ficar no lugar onde está e começa a caminhar em sua direção. Não sabe o porquê, mas seu coração acelera. Será que a mulher percebera que estava sendo observada, ficou incomodada e agora vem lhe tomar satisfações? O que diria àquela senhora? Que estava descansando nesse belo parque  com quentes raios de sol quando foi acometida de uma curiosidade inexplicável por descobrir quais figuras eram aquelas em seu vestido? Bateu-lhe um arrependimento enorme por ser tão curiosa.
A mulher se aproxima. O coração bate mais forte. A mulher passa e nem lhe dá atenção. Ela se acalma e fixa o olhar no vestido e finalmente pode distinguir os desenhos que tanto lhe chamaram a atenção: são quatro pães daqueles caseiros que parecem ter saído recentemente do forno em meio a uma enorme cebola roxa descascada em pétalas. Ri para si mesma e pensa: estranhos desenhos para um vestido. 
Sente fome.

Terceira versão para Quatro pães e uma cebola

Quatro pães e uma cebola (autor desconhecido)

Marlinda parou o carro pela quinta vez no curto percurso do trabalho até em casa. Engarrafamento na pequena cidade onde vivia não era algo comum. Culpa desse maldito circo, pensou. Conseguiu, após o dobro de tempo que gastava comumente, chegar em casa. Sentia-se exausta. Aguardava ansiosamente sua merecida aposentadoria após anos e anos de trabalho. Não que não gostasse do que fazia. Não era isso. Apenas sentia que sua juventude já havia passado e era hora de ficar em casa, lendo, apreciando a companhia dos filhos e dos netos. Era o que planejava para seu futuro.
Após um banho quente e uma refeição rápida jogou-se no sofá e ficou olhando para a TV sem prestar muita atenção à programação. Maldito circo!  Por conta dele havia perdido horas preciosas do seu tempo presa naquele engarrafamento estúpido em uma cidade que nem  trânsito tinha,  pensou ainda antes de adormecer no sofá. Acordou sem saber quanto tempo havia passado com o som estridente da companhia soando desesperadamente. Pensando que era um dos filhos em alguma visita surpresa abriu a porta ainda sonolenta e ficou pasma, parada, sem reação com o que via. Alfedro estava parado na porta, com aqueles mesmos olhos que conhecia tão bem. Mesmo tendo se passado quase 20 anos ela não tinha como esquecer. Não sabia o que dizer, ficou parada, olhando como se visse um fantasma. E na verdade era mesmo um fantasma. Ele  rompeu o silêncio:
----- Desculpe, aparecer assim, depois de tanto tempo... Mas eu estava na cidade e quis saber de você e dos meninos...
Ela continuava muda sem conseguir emitir um som sequer. Olhava pra ele e não conseguia entender direito o que via. Mandava o homem sumir ou convidava para entrar? Não sabia. Continuou olhando sem proferir palavra. Suas mãos tremiam.
------ Sei que você deve ter raiva de mim e eu mereço mesmo que tenha, mas queria te explicar...
Ela continuava muda. Explicar o que após 20 anos, meu Deus? Enlouquecera? Tentou falar mas a voz não saiu. Ele falava rápido, baixo e sua voz parecia triste. Ela via sua vida passando pelos olhos... Casaram jovens, muito jovens, cheios de sonhos e planos. Logo vieram os filhos, gêmeos. A vida começou a apertar. O parco salário de professora dela e os ganhos incertos dele que tocava na noite não davam conta do orçamento doméstico. Precisavam sempre recorrer às famílias de ambos para se sustentarem e aos filhos. Mas iam levando a vida, sem luxos. Ela trabalhando sempre e cada vez mais e ele sonhando com uma vida de artista que um dia viria, dizia. Tocava violão e cantava. Bem até, ela achava. Um dia, quando os meninos estavam prestes a completar 7 anos e ela preparava um almoço de domingo para a família, com direito a sobremesa e tudo, ele saiu para ir ao mercado e comprar algumas coisas que faltara para a execução da tarefa. E nunca mais voltou. Ela havia procurado por todos os lugares, hospitais, prisões... Dera queixa à polícia que também procurou por um tempo e depois desistira.  Alguns diziam terem visto o marido entrando em um carro, outros pegando um ônibus na rodoviária da pequena cidade. Ela procurou por muito tempo. Por muito tempo esperou que ele desse notícias. Seguiu assim durante anos. Ninguém sabia. Parecia que o homem havia desaparecido no ar, se volatizado. Sofreu, ficou doente, quase morreu. Mas tinha os filhos. Precisava ser forte. Continuou trabalhando e cuidando deles. Com o tempo as coisas se ajeitaram. Os meninos eram ótimos, estudiosos, disciplinados. E a vida foi seguindo. Às vezes alguém lhe perguntava pelo marido. Não sabia. Não tinha a mais remota idéia do que poderia ter acontecido. Criou os filhos, viraram gente de bem. Estudaram, tinham boas profissões, casaram, tiveram também seus filhos e ela continuou ali, na mesma casa, trabalhando como sempre mas com a vida mais tranqüila graças à ajuda recebida deles.
Ela não sabia o que dizer e ele foi falando pelos dois;
----------Fui embora aquele dia porque não agüentava mais. A vida passava e eu não conseguia sair do lugar. Estava envelhecendo, precisava fazer alguma coisa. Aí soube que na cidade vizinha tinha um circo. Achei que era bom pra começar. E fui embora com eles. Continuo no circo. Depois desse tempo todo voltamos aqui para uma temporada... Sempre quis saber de você e dos meninos mas achei que era melhor não deixar nó com o passado... Recomecei... E... não sei... fale alguma coisa por favor...
--------- Sua mãe, ela conseguiu dizer com os olhos doloridos, segurando as lágrimas, sua mãe quase enlouqueceu sem saber de você... Seus filhos não se lembram do rosto do  pai... E eu? Quase morri de dor e desgosto. Perdi noites de sono imaginando o que teria te acontecido, se estava vivo ou morto, se...
------ Eu sei, eu sei, por isso vim pedir perdão. Não quero nada, só ouvir que você me perdoa... Preciso disso... E quero que saiba que você foi a pessoa que mais amei em toda minha vida... Mas... eu precisava tentar...
Ela olhava. Os olhos doíam. O peito mais anda. Angústia. Mas via que estava sendo sincero. Ela o conhecia bem. Sabia também que era apenas um homem egoísta. Não era um homem ruim, apenas egoísta.
------ Você saiu para comprar quatro pães e uma cebola para eu terminar o almoço, ela disse como se estivesse em um sonho. Sorriu, um sorriso muito triste mas carregado de perdão. Ele compreendeu. Ela fechou a porta, entrou e por fim pode chorar. Um choro de dor, certamente, mas  muito mais de alívio.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Segunda versão para "Quatro pães e uma cebola", by León e Ana Lucia

Quatro pães e uma cebola
    – Hmm... Vejamos... Leite condensado... confere.... Tomate... confere... Quatro pães e uma cebola... Quatro pães e uma cebola? COMO ASSIM?
    Havia muito estava no hipermercado, comprando frutas, legumes, produtos de limpeza... Sua mulher cismara em dar uma estocada na casa, mesmo sendo domingo.  Ele passara quatro horas e meia procurando aquele hipermercado, pois, além de ser domingo, era domingo de Páscoa: todos emigrando e imigrando felizes da vida naquela cidade denominada São Paulo. Para chegar a um mercadinho de esquina, uma hora. Hipermercado que funcionava domingo de Páscoa? Pegue um avião meu filho! Ele ainda processaria Jesus por ressuscitar num domingo. Justo no domingo de jogo! Por causa disso, lá estava ele, vendo a lista de compras que sua mulher havia escrito, parado no hipermercado às seis horas da tarde, meia hora para ele fechar, e momento em que achara que poderia voltar, lá estavam as pragas dos pães e da cebola escritos na lista.
    – Onde raios ficam os pães? Ah céus, acho que estou perdido! E agora, o que vou fazer? Agora não, celular maldito! Não vê que tenho coisa mais importante a fazer?
De fato, ele metesse a cara em casa sem os pães (e a cebola, que seja) ficaria encrencado. Ele precisava achar a cebola e os pães antes do hipermercado fechar.
    – Setor de eletrodomésticos... Uh, que fogão bacana... Foco!... Setor de papelaria... Até que não está tão caro... FOCO!
    Ficaria tão encrencado quanto naquela vez em que chegou sem a quentinha do restaurante, ah... “COMO ASSIM ESQUECEU NO RESTAURANTE?” “Esqueci querida, esqueci...” “VOCÊ SABE QUANTO CUSTOU AQUELE TRECO?” “Sei sim, querida, fui eu que paguei...” “VOCÊ ACHA QUE SE PODE DESPERDIÇAR DINHEIRO DESSE JEITO AQUI EM SÃO PAULO?” “Não querida, não acho...”
    – Ufs pufs... Ahá! Achei os senhores, heim? Quatro pães... confere! Peraí, FALTA A CEBOLA! Secundária de uma figa! O que eu faço agora? Setor dos... cebola é o que? Setor que tem as cebolas, que seja! Avante!
    Cebolas eram o que? Agora ficara a dúvida. Vegetal? Não parece. Fruto? Talvez. Extraterrestre? Pode até ser... Mineral? Óbvio que não, não é? Não é?
    – Moço por favor... Senhora, onde... SENHOR! ISSO, VOCÊ! ONDE FICAM AS CEBOLAS?
    Setor vegetal! Ótimo! Ali! Dá até pra ver! Ele vai conseguir! Ele vai conseguir!
    – EU VOU CONSEGUIR! EU VOU CONSEGUIR! EU...
    Do nada, surge uma funcionária, que barra seu caminho.
     – COMO ASSIM JÁ VÃO FECHAR? AINDA É CEDO! NÃO! EU PRECISO DE UMA CEBOLA! EU PRECISO! É UMA QUESTÃO DE VIDA OU MORTE! NÃO! NÃO!
    Até que o curso de teatro estava ajudando. Mas a funcionária, sem piedade, o expulsou. Pelo menos eu levei os quatro pães, pensava. Ele fora histérico. Não podia dizer que não tentara. Pelo menos estava vivo. Ugh. Mais duas horas para voltar. Ugh. Definitivamente ugh.
    O trânsito não estava tão ruim. Chegou cabisbaixo, esperando a bronca quando...
    SURPRESA!!!!!!
    Todos seus parentes, amigos e vizinhos fizeram o maior alvoroço. SURPRESA! MEUS PARABÉNS! etc., etc. Era incrivelmente incrível. Ficara tão preocupado com os pães e a maldita cebola que havia esquecido seu aniversário! E lá estavam todos, reunidos, desejando parabéns e blá blá blá, usando até chapeuzinhos com um :P (muito embora ele não soubesse o que significava um :P)!
    – Oi Bill! Cortou o cabelo? Oto! Como vai?! Oi! Bom te ver também, Melissa! Que incrível isso, mulher! Como você fez isso sem eu notar? As compras? PRETEXTO?
    Ninguém entendeu porque ele terminou a festa tão cedo; mas ele expulsou todo mundo, sentou-se na poltrona e dormiu o resto do dia.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Quem conta um conto aumenta um ponto

Quem conta um conto aumenta um ponto
By Maria Auxiliadora Arsiolli

Que tal uma poltrona bem macia, uma xícara de café fumegante e uma história, ou melhor, quatro histórias de uma só vez. Então vamos lá. Era uma vez... Deixa pra lá, iniciaremos diferente, que tal começarmos assim?
Digo e repito: “Ler é sempre o melhor negócio”. Venho de uma família de leitores. Lembro-me de ficar encantada com a biblioteca de meu avô paterno e de meu pai e mais fascinada fiquei ao abrir uns daqueles livros em que se escrevia farmácia com ph, edição mil novecentos e bolinha. Um dia um amigo me disse algo que me marcou: “podem inventar a parafernália que quiserem para ler, mas um livro nunca vai terminar a bateria, a pilha ou te deixar na mão onde quer que você esteja”. Viu? Sabedoria milenar.
Eis que estou aqui dando voltas para conseguir introduzir uma brincadeira de alguns amigos que acabou em samba, digo história. Lembra-se de León, nosso pequeno escritor e ávido leitor?
 Então Ana Lúcia, sua mãe e ele começaram uma história com um tema e quem se interessasse que escrevesse o seu e publicasse no facebook, junto com o deles. Portanto é dessa brincadeira que vou escrever.
Ana é uma jovem professora universitária (pós-doutora pela UFRJ< me corrija se me enganei), miúda, de olhos bem expressivos e que exala simpatia por todos os poros, não me lembro de alguma vez tê-la visto de mau humor. Duas coisas na vida a entusiasma mais que qualquer outra: seu filho Léon e seu trabalho com alfabetização.
León, um garoto de nove anos, é dotado de excepcional sensibilidade com as palavras. Não muito magro, de apetite excelente, mas não desses apetites que devoram doces, Léon devora livros. De tanto lê-los, vive sonolência que o afasta da realidade circundante. Pode ficar muito tempo perdido, fechado em seu mundo particular, como se tudo tivesse meio borrado, não se engane, ele só dá essa impressão. De sua figura de criança é capaz de emanar um adulto muito argumentativo, diria Monteiro Lobato.
Lucimar (também professora doutora na UFMS) não é baixinha e nem alta, ela é dessas morenas bonitas, cabelos crespos e reluzentes que se destacam em qualquer roda, de fala mansa que conquista seu coração. Sei pouco sobre ela porque só há dois meses é que nos conhecemos tão pessoalmente. E por fim Sara que participou da brincadeira. Desculpem não poder falar sobre ela, apenas sei que participou mandando uma história.
E como diz o ditado popular quem conta um conto aumenta um ponto, que tal se remexêssemos nessas histórias pra ver no que vai dar. Nos próximos post, contem com versões de “Quatro pães e uma cebola”, nada do original foi corrigido ou mudado. Os textos são de responsabilidade dos respectivos autores.
Primeira versão de "Quatro pães e uma cebola.":
By Sara Santana. 

"Quatro pães e uma cebola"

Era mês de junho. Inverno. Mas era inverno no Rio de Janeiro, ou seja, nada daquele calor de dezembro, mas nada do frio europeu.
Ana estava sentada na sala do seu apartamento. Tinha cabelos curtos e escuros. Muito mais que olhos de ressaca, ela tinha olhos de jabuticaba. Lia um livro. Ela era leitora daquelas fervorosas. Cada palavra a fazia viajar nos textos e esquecer o mundo ali fora.

 --- Mãe, tô com fome. -- interrompeu seu filho.

Leon era ele. Criança. Usava óculos e os olhinhos levemente puxados não negavam suas origens orientais. Por ser filho d eleitora, nasceu leitor. Aprendeu a ler brincando quando ainda tinha uns três anos. Família de leitor é assim: as palavras se unem para formar histórias. Palavras, aliás, nunca são apenas palavras. Quando elas se juntam é para nos contar coisas que existem, coisas que existirão e até aquelas outras coisas que nunca existiram. Para os dois ler, sempre foi aventura....

-- Mãe, tô com fome.

Ana era mãe fora dos padrões "normais" de maternidade. Não vou dizer que era mãe moderna, pois modernidade é uma categoria que eu, narradora, não gosto. Ela era mãe que viajava, trabalhava, que tinha agenda e compromissos. Era mãe que não tinha tempo de lavar, passar e cozinhar como geralmente a mãe da mãe da gente faz. Mas Ana era mãe leitora regada de sentimento. E filho com fome, mãe sempre atende:

-- Ok Filho, vamos ver o que temos para fazer.

Dispensa em casa de mãe que trabalha, lê, dirige e viaja quase não tem coisas tão gostosas como na casa da madrinha.
Então, os dois olharam os armários e a geladeira. 
Mãe no inverno tem mania de sopa:

-- Dá pra fazer uma sopa filho! Temos legumes, só nos falta a cebola!
-- Mãe, tô com fome de comida que não é sopa. Sopa não... Temos presunto e queijo, mas não temos o pão.

Ana e Leon por serem bons leitores eram sem dúvidas bons argumentadores:

-- Vamos comer sopa com pão?
-- Eu prefiro pão com cebola!
-- Tudo bem... eu faço uma sopa e você um sanduíche. Vai ali no mercado filho e compre quatro pães e uma cebola.

Leon desceu as escadas, foi no mercado da esquina e comprou o que sua mãe lhe havia pedido. Voltou para o apartamento e na cozinham preparavam a janta quando Leon disse:

-- Mãe, quatro pães e uma cebola dão título de uma história, né!?

Eu, narradora onisciente, particularmente acho que Leon e Ana já são uma história. E sem dúvidas, uma das mais bonitas que já li.

Sara Santana
 
Até mais.

domingo, 28 de julho de 2013

O filme Germinal: exploração, luta e consciência.

O filme Germinal: exploração, luta e consciência.


Graças a muitos blogs e sites sobre filmes pude concluir minhas pesquisas sobre germinal, o livro que tanto apaixonou o nosso clube. O artigo abaixo é de Waldemberg Oliveira Lima, graduado em História pela UFC. O texto não está na íntegra, mas vocês podem checar todo ele em: WWW.webartigos.com
 “A história filmada refere-se ao cotidiano de exploração sofrido pelos trabalhadores de várias minas de carvão na região de Montsou, França. Salários minguados, seres humanos humilhados, exaustivas jornadas e péssimas condições de trabalho são alguns dos pontos apresentados na película. Ainda assim, a vida precisava continuar em Deuxcenquarante, a vila de trabalhadores das minas Voreux, Jean-Bart e redondezas. Gradualmente, provocados pela situação de miserabilidade e pelas palavras do personagem vindo de fora, os mineiros começaram a ter consciência de que a forma de vida que levavam não era algo natural, que enquanto eles penavam por pão e água ao fim do dia, burgueses comiam fartamente. Cenas justapostas oferecem ao espectador o contraste entre as classes, mobilizando as opiniões favoráveis aos mineiros. Uma súbita redução de seus salários é a gota d’àgua: os proletários não suportavam mais aquela situação e resolveram reivindicar seus direitos, entrar em greve.
            Paralelamente, as vidas de seus familiares são afetadas por tudo o que diz respeito ao trabalho nas minas. As cenas iniciais chocam: a saída para o trabalho conta com um grupo em que as crianças são a maior parte da mão de obra. Ao mesmo tempo, os pequenos são as testemunhas mudas do resfolegar dos adultos, de ações que satisfazem necessidades biológicas sem que portas ou cortinas garantam privacidade a quem quer que seja”.
Apenas tomei a liberdade ao passar o texto para nosso post de por em itálicos os nomes em francês.
Também visitei o site www.melhoresfilmes.com.br  em 08/07/2013 e trago as seguintes informações sobre o filme.
Direção:
Ano:
1993 
País:
Gênero:
Duração:
170 min. / cor
Título Original:
Germinal 
Elenco:
Ao tentar adquirir a película, descubro que não está mais disponível no fornecedor. Que pena. Agora é tentar conseguir em algum sebo online.
Minha última olhada aos sites e blogs de cinema e aos amantes de Direito, não esquecendo que temos dois representantes legítimos no nosso clube, eis o site direito.obatente.jor.br
Nele o autor ( o qual não temos o nome) mostra que o filme abarca princípios do Direito do Trabalho Moderno e segue com outro links aos interessados. Abaixo trago parte de seu trabalho:
“O filme abarca alguns princípios do Direito do Trabalho moderno.
Realizei algumas pesquisas sobre o filme que compartillho com os leitores a seguir.
Obra literária
Trata-se de uma adaptação do livro de mesmo título do escritor francês Emile Zola (1840-1902) e que é considerada sua maior obra. Emile Zola é visto também como o criador do movimento literário denominado naturalismo. Este movimento baseava-se na observação fiel da realidade e na experiência de forma a mostrar que o indivíduo será definido por sua hereditariedade e ambiente.
Conhecer este aspecto de tal movimento é importante para compreender a narrativa do livro (adaptado para as telas). Antes de escreve-lo, Emile Zola trabalhou em uma mina de carvão, conviveu com os mineradores (inclusive morando nas mesmas condições) e acompanhou a greve.
O filme apresenta o processo de produção no modelo capitalista do século XIX. A maneira como é feita essa apresentação deixa bastante clara a oposição entre necessidade humana e necessidades materiais (produção)
O título do filme, "germinal", está relacionado ao "processo de gestação e maturação dos movimentos grevistas e de uma atitude mais ofensiva por parte dos trabalhadores das minas de carvão do século XIX na França em relação à exploração de seus patrõe" (João Luis de Almeida Machado in Planeta Educação. Link em 28/09: http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=54) por esta razão é que são citados, ao longo do filme, Marx, Engels e a Internacional socialista.”
Como vocês podem ver não são apenas os amantes de literatura os que se interessaram pelo filme, aos mais curiosos, recomendo a leitura do livro e dos comentários postados anteriormente.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Cidades e curiosidades da obra Germinal de Émile Zola

As cidades citadas no livro Germinal
A história de Émile Zola acontece no norte da França, daí me veio a curiosidade de saber se os lugares mencionados na história eram fictícios ou se realmente existiram ou existem.  A maioria das cidades na história faz fronteira com a Bélgica, cuja capital é Bruxelas, onde também na mesma época ocorreu uma greve de mineiros.
Lille: maior cidade ao norte da França perto da fronteira com a Bélgica e o canal da Mancha. É porta de entrada para a Europa do norte
Valenciennes: cidade junto com a fronteira belga.
Marchiennes-Ville: cidade do departamento norte da França. Ficou famosa depois da história de Zola. Situada em Flandre romana, na região Nord –Pas-de Calais.
Montsou: lugar fictício na história estaria perto da vila de Marchiennes.
Joiselle, última cidade citada na história, para onde Etienne se dirigia, fica na região de Champagne-Ardenne no departamento de Marne no noroeste francês.
A região do Nord-Pas-de Calais era a região das minas de carvão. A mina da história denominada “Voreux” significa Voraz em português. Título que lhe bem cabe. Agora essa região faz parte do patrimônio mundial da UNESCO. Como frisa a própria UNESCO em seu site “as minas são prova viva da busca por um modelo de cidade para os trabalhadores de meados do século XIX até a década de 1960 e ilustra um período importante da história da Europa industrializada”.
No site www.france.fr encontrei a seguinte informação sobre o lugar marcado pela UNESCO: são três séculos de exploração de carvão protegidos em mais de 100.000 km de galerias, 4000 hectares de paisagem, 600 poços, 17 valas, 21 cavaletes de extração, 51 depósitos de minérios, diversas infra-estrutura de transporte de hulha, três estações ferroviárias, alojamento para operários bem como escritórios de mineradoras. Para quem leu a história esses dados soam bem familiares, não?
Outro detalhe que não me passou despercebido foi o do trabalho infantil descrito por Zola. Um dos aspectos mais horrendos das minas na Europa. As crianças que sobreviveram fisicamente, raramente tiveram oportunidade de ter uma educação, exceto a da escola dominical. Ao lado a figura de uma criança puxando um vagonete.
Vi isso pessoalmente quando por volta dos anos 90 visitei a Pensilvania nos EUA e pude descer numa mina de carvão. Rayc dá pra sentir todos aqueles detalhes mencionados por Zola, a humidade, os estreitos corredores, é um horror de fato. 
Devido a greve, em 1894, foi criado um fundo pelos trabalhadores que proibiam crianças com menos de 12 anos de trabalhar nas minas e em 1910, os mineradores conseguiram uma jornada de 8h diárias de trabalho.
Ajudaram-me nesta pesquisa os seguintes sites:
www.wikipedia.org
www1.folha.uol.com.br
www.unesco.org
Por hoje é só. No próximo post comento sobre o filme de 1993, estrelado por Gerard Depardieu. Até lá.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Germinal de Émile Zola


Germinal de Émile Zola
Uau!  Realmente a história de Émile Zola é breath taking, de tirar o fôlego. Foi assim que em uma semana li as quase 450 páginas da Martin Claret. Você não consegue parar de se envolver com as histórias dos personagens, suas vidas tão desgraçadas e de pensar que se não fosse essa gente, para a classe trabalhadora, tudo estaria como no século XIX.
Porém, acredito que muita coisa não mudou, falo do fato do Capital fazer conosco a mesma coisa que as fábricas, as minas fizeram no século XIX, a diferença é que eles se matavam para dar o Capital aos burgueses, agora nos matamos pelo Capital.
Por isso, não consigo deixar de comparar esta história com o filme Guerra dos mundos, protagonizado por Tom Cruise, em que as máquinas se alimentavam de sangue humano. No fim é quase a mesma coisa, pois as máquinas que retiravam o carvão nada mais eram que humanos, movidos a pão e água. Hoje quem nos esfola é o Capital.
Mas que história estou falando? Germinal de Émile Zola. A história foi baseada em acontecimentos verídicos. Zola trabalhou nas minas de carvão, justo onde ocorreu uma greve sangrenta por dois meses. Nesta história, ele mostra que o ambiente social exerce efeitos sobre os laços de família, sobre os vínculos de amizade e as relações entre os apaixonados.
A história foi escrita entre abril de 1884 e janeiro de 1885. Germinal refere-se ao nome do calendário francês republicano, o mês da primavera. Gérmen vem do latim e quer dizer semente. A razão deste nome é porque a novela descreve a esperança de um futuro melhor que germinará entre os mineiros.
Germinal é a 13ª novela da série de 24 volumes Les Rougon-Macquart, nome da série, considerada sua obra de arte. É o primeiro romance a enfocar uma luta de classes no momento da sua eclosão. Para escrevê-lo Zola se inspirou na colossal A Comédia Humana de Balzac.
 A história se passa na metade do século XIX e acontece no norte da França em 1860. Foi traduzida em 100 países, inspirou cinco filmes e duas produções de TV.
A direita vocês podem ver a capa da edição da Martim Claret (2011) e acima também a direita a capa da primeira edição do livro (1885). Esta edição foi escolhida porque esta ilustração baseia-se na pintura de Pelizza de Volpedo e chama-se Os trabalhadores italianos em greve (1905). A tela foi exposta pela primeira vez em 1902, na Mostra Quadrienal de Turim na própria Itália. Durante a preparação do quadro, Pelizza o chamou de “O caminho dos trabalhadores” e quando foi enviado para a exposição chamou-se “Quarto Stato”.“O Quarto Estado” significa revolução social, um verdadeiro simbolismo do sindicalismo mundial e de mudanças. Segundo o site Wikipédia, em sua obra, o pintor italiano “apresenta seus trabalhadores avançando de frente como uma massa compacta à luz da justiça social que está a sua frente. Este trabalho se tornou um símbolo bem conhecido das causas populares progressistas primeiramente na Itália e depois no resto do mundo”. A escolha desta imagem, hoje é de domínio público.