segunda-feira, 29 de julho de 2013

Quem conta um conto aumenta um ponto

Quem conta um conto aumenta um ponto
By Maria Auxiliadora Arsiolli

Que tal uma poltrona bem macia, uma xícara de café fumegante e uma história, ou melhor, quatro histórias de uma só vez. Então vamos lá. Era uma vez... Deixa pra lá, iniciaremos diferente, que tal começarmos assim?
Digo e repito: “Ler é sempre o melhor negócio”. Venho de uma família de leitores. Lembro-me de ficar encantada com a biblioteca de meu avô paterno e de meu pai e mais fascinada fiquei ao abrir uns daqueles livros em que se escrevia farmácia com ph, edição mil novecentos e bolinha. Um dia um amigo me disse algo que me marcou: “podem inventar a parafernália que quiserem para ler, mas um livro nunca vai terminar a bateria, a pilha ou te deixar na mão onde quer que você esteja”. Viu? Sabedoria milenar.
Eis que estou aqui dando voltas para conseguir introduzir uma brincadeira de alguns amigos que acabou em samba, digo história. Lembra-se de León, nosso pequeno escritor e ávido leitor?
 Então Ana Lúcia, sua mãe e ele começaram uma história com um tema e quem se interessasse que escrevesse o seu e publicasse no facebook, junto com o deles. Portanto é dessa brincadeira que vou escrever.
Ana é uma jovem professora universitária (pós-doutora pela UFRJ< me corrija se me enganei), miúda, de olhos bem expressivos e que exala simpatia por todos os poros, não me lembro de alguma vez tê-la visto de mau humor. Duas coisas na vida a entusiasma mais que qualquer outra: seu filho Léon e seu trabalho com alfabetização.
León, um garoto de nove anos, é dotado de excepcional sensibilidade com as palavras. Não muito magro, de apetite excelente, mas não desses apetites que devoram doces, Léon devora livros. De tanto lê-los, vive sonolência que o afasta da realidade circundante. Pode ficar muito tempo perdido, fechado em seu mundo particular, como se tudo tivesse meio borrado, não se engane, ele só dá essa impressão. De sua figura de criança é capaz de emanar um adulto muito argumentativo, diria Monteiro Lobato.
Lucimar (também professora doutora na UFMS) não é baixinha e nem alta, ela é dessas morenas bonitas, cabelos crespos e reluzentes que se destacam em qualquer roda, de fala mansa que conquista seu coração. Sei pouco sobre ela porque só há dois meses é que nos conhecemos tão pessoalmente. E por fim Sara que participou da brincadeira. Desculpem não poder falar sobre ela, apenas sei que participou mandando uma história.
E como diz o ditado popular quem conta um conto aumenta um ponto, que tal se remexêssemos nessas histórias pra ver no que vai dar. Nos próximos post, contem com versões de “Quatro pães e uma cebola”, nada do original foi corrigido ou mudado. Os textos são de responsabilidade dos respectivos autores.
Primeira versão de "Quatro pães e uma cebola.":
By Sara Santana. 

"Quatro pães e uma cebola"

Era mês de junho. Inverno. Mas era inverno no Rio de Janeiro, ou seja, nada daquele calor de dezembro, mas nada do frio europeu.
Ana estava sentada na sala do seu apartamento. Tinha cabelos curtos e escuros. Muito mais que olhos de ressaca, ela tinha olhos de jabuticaba. Lia um livro. Ela era leitora daquelas fervorosas. Cada palavra a fazia viajar nos textos e esquecer o mundo ali fora.

 --- Mãe, tô com fome. -- interrompeu seu filho.

Leon era ele. Criança. Usava óculos e os olhinhos levemente puxados não negavam suas origens orientais. Por ser filho d eleitora, nasceu leitor. Aprendeu a ler brincando quando ainda tinha uns três anos. Família de leitor é assim: as palavras se unem para formar histórias. Palavras, aliás, nunca são apenas palavras. Quando elas se juntam é para nos contar coisas que existem, coisas que existirão e até aquelas outras coisas que nunca existiram. Para os dois ler, sempre foi aventura....

-- Mãe, tô com fome.

Ana era mãe fora dos padrões "normais" de maternidade. Não vou dizer que era mãe moderna, pois modernidade é uma categoria que eu, narradora, não gosto. Ela era mãe que viajava, trabalhava, que tinha agenda e compromissos. Era mãe que não tinha tempo de lavar, passar e cozinhar como geralmente a mãe da mãe da gente faz. Mas Ana era mãe leitora regada de sentimento. E filho com fome, mãe sempre atende:

-- Ok Filho, vamos ver o que temos para fazer.

Dispensa em casa de mãe que trabalha, lê, dirige e viaja quase não tem coisas tão gostosas como na casa da madrinha.
Então, os dois olharam os armários e a geladeira. 
Mãe no inverno tem mania de sopa:

-- Dá pra fazer uma sopa filho! Temos legumes, só nos falta a cebola!
-- Mãe, tô com fome de comida que não é sopa. Sopa não... Temos presunto e queijo, mas não temos o pão.

Ana e Leon por serem bons leitores eram sem dúvidas bons argumentadores:

-- Vamos comer sopa com pão?
-- Eu prefiro pão com cebola!
-- Tudo bem... eu faço uma sopa e você um sanduíche. Vai ali no mercado filho e compre quatro pães e uma cebola.

Leon desceu as escadas, foi no mercado da esquina e comprou o que sua mãe lhe havia pedido. Voltou para o apartamento e na cozinham preparavam a janta quando Leon disse:

-- Mãe, quatro pães e uma cebola dão título de uma história, né!?

Eu, narradora onisciente, particularmente acho que Leon e Ana já são uma história. E sem dúvidas, uma das mais bonitas que já li.

Sara Santana
 
Até mais.

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