quarta-feira, 31 de julho de 2013

4ª versão de quatro pães e uma cebola by Lucimar

Quatro pães e uma cebola
Por Lucimar Rosa Dias
Ela estava muito interessada em olhar os detalhes daquele vestido à sua frente, mas ficou um pouco envergonhada em olhar fixamente para a mulher que o trajava, então disfarçava sempre que percebia algum movimento por parte da dona do traje.
A roupa não era propriamente diferente, mas havia nela algumas figuras que a intrigaram e a distância em que se encontrava não lhe permitia distingui-las muito bem. O efeito delas no tecido que tremulava com o suave vento daquela manhã era muito bonito e fê-la divagar um pouco e relembrar seus tempos de infância e as festas de quadrilha que frequentava.
Bandeirolas coloridas por toda parte, vestidos rendados dos mais variados jeitos, calças com os remendos de tantas cores que ela nem podia contar! Os chapéus tinham uma variedade incrível. A lembrança lhe trouxe também cheiros e sabores destas festas... milho verde fumegante, pé de moleque, arroz carreteiro... humm... humm ... 
A mulher do vestido levantou os braços para pegou uma flor no alto da Primavera, lindamente florida. Esse movimento lhe tirou da divagação e a fez concentrar-se novamente nas figuras do tecido. Apostou, consigo mesma, que eram pássaros voando o que aquela senhora tinha a enfeitar o vestido. Mas, como poderia se não havia nenhum céu em sua roupa?
E novamente seus pensamentos a levaram à infância de ontem... um céu azul, um sol brilhante e as pipas coloridas “pipocando” no ar. Ela gostava de ver aqueles pássaros de papel a voar. Mas no seu tempo, soltar pipas era coisa de menino, então, era preciso alguma estratégia para alcançar esse objetivo. Sempre ficava por perto e quando um dos meninos precisava de alguém para segurar a sua pipa enquanto ele pegava algo ou então ia fazer “necessidades” ela estava de prontidão. Nessas horas assumia a linha e sentia a magia que fazia os meninos correrem enlouquecidamente atrás de pipas caídas e das muitas horas gastas nesta brincadeira ... a sensação de comando era mesmo incrível.
De repente ela vê que a dona do vestido desiste de ficar no lugar onde está e começa a caminhar em sua direção. Não sabe o porquê, mas seu coração acelera. Será que a mulher percebera que estava sendo observada, ficou incomodada e agora vem lhe tomar satisfações? O que diria àquela senhora? Que estava descansando nesse belo parque  com quentes raios de sol quando foi acometida de uma curiosidade inexplicável por descobrir quais figuras eram aquelas em seu vestido? Bateu-lhe um arrependimento enorme por ser tão curiosa.
A mulher se aproxima. O coração bate mais forte. A mulher passa e nem lhe dá atenção. Ela se acalma e fixa o olhar no vestido e finalmente pode distinguir os desenhos que tanto lhe chamaram a atenção: são quatro pães daqueles caseiros que parecem ter saído recentemente do forno em meio a uma enorme cebola roxa descascada em pétalas. Ri para si mesma e pensa: estranhos desenhos para um vestido. 
Sente fome.

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