quinta-feira, 25 de abril de 2013

Crônica 2 - Doente

                            Doente
By Leon Espindola Nozaki
     – Tome o remédio, filho.
     – Por quê?
     – Por quê? Ora essa, porque você está doente!
     – Eu não estou não. Estou muito melhor agora!
     – É, pra não ir para a escola você estava muito doente! Pare de enrolar e tome de uma vez esse remédio!
     O menino não teve remédio senão tomar o, bem, o remédio.
     – Viu só? Não doeu nada. Agora, fique de repouso.
     Ele se dirigiu ao quarto.
     No dia seguinte, foi a mesma coisa.
     – Vamos para a escola, filho?
     – Esqueceu que eu to doente?
     – Então vamos tomar o remédio.
     – Olhe lá! Eu não estou tão doente assim!
     – Todo doente tem que tomar o remédio!
     – Eu não sou todo doente!
     – Para mim, você não está doente coisa nenhuma! De duas, uma. Ou toma o remédio, ou já para a escola!
     Ele acabou tomando mesmo o remédio. Três dias se passaram assim.      
     – Tome o remédio.
     – Não.
     – Então já para a escola.
     – Dá aqui esse treco.
     Até que um dia, o menino; entupido de remédio dos pés a cabeça; teve a brilhante ideia de jogar todo o estoque de remédios fora. E assim fez ele. No dia seguinte, a mesma coisa.
     – Melhorou? Já pode ir à escola?
     Desta vez, ele fez o maior drama. Disse que estava morrendo, lentamente, que sua alma estava sendo sugada. Cínico, não? Pois bem. Quando a mãe foi pegar o remédio, obviamente, não encontrou nada. O menino continuou com o drama, digno de Shakespeare. Se ele não ganhasse o Oscar, o prêmio Nobel, o prêmio Shell, ou todos eles, sinceramente, não sei quem ganharia.
     – Então fique aqui que eu vou ao mercado. Sem bagunça, tá?
     O pequeno dramaturgo, felicíssimo pelo seu êxito, assente dramaticamente. Ele conseguiu! Sem remédio e sem escola. Ele está no Paraíso.
     Poucos minutos depois, a porta é aberta. Dela surge a sua mãe, que pega ele no meio de uma “dancinha da vitória”.
     – Ahá! Eu sabia que você não estava doente coisa nenhuma! – a mãe diz.
     O menino entra em estado de choque.
     – Mas porque você não disse nada? – ele fala, por fim.
     – Era melhor assim. Quando percebi que era farsa, fiz você tomar o remédio. Aliás, tinha um passeio na quarta. Vocês iam para um parque, acho. Mas você estava “doente”.
     – Peraí, hoje tem aula, normal?
     – Tem sim. Arrume o material, ande.
     Ele tosse de leve e diz:
     – Eu não, to doente.

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