quinta-feira, 4 de abril de 2013

Naturalismo no Brasil: Aluísio Azevedo e Júlio Ribeiro



Júlio César Ribeiro Vaughan (1845 - 1890)Olá, já vimos que o naturalismo surgiu com Émile Zola (1840-1902), na França em 1871. Fomos ver a origem, pois no Brasil o marco do naturalismo acontece com Aluísio Azevedo e Júlio Ribeiro, creio este fidelíssimo a Zola. No naturalismo, o objetivo é comprovar os fatos e as ações dos personagens do ponto de vista da ciência. O individuo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade.
Decido, então, começar os estudos por Júlio Ribeiro, com a leitura de A Carne.
Segundo Iannone em A Carne da editora Martin Fontes (2010), Ribeiro lutou sozinho sua vida e venceu sem ajuda a pobreza, o desamparo, as dificuldades, impondo-se como professor, jornalista e homem de letras. Batalhou pelo abolicionismo e pela república. Não é autor de uma obra muito vasta, mas deixou textos polêmicos, além de traduções, entre elas Assassinatos na Rua Morgue de E. Allan Poe.
Julio Ribeiro ficou célebre pela polêmica com o Padre Sena Freitas, em defesa do romance A Carne. “Sena viera de Portugal e tivera boa acolhida nos meios literários de São Paulo e escreveu no Diário Mercantil um artigo com o título ‘A Carniça” em que atacou violentamente o romance de Julio Ribeiro, porém destaca as qualidades de Ribeiro como filólogo e linguista. Vale a pena ler o debate dos dois. Tente este link: www.casadobruxo.com.br.
A Carne, publicado em 1888 provocou protesto. Claro, tudo que é novidade não é bem aceita, ia ser diferente em 1888?
 Há certa brutalidade das criaturas, um exagero de paixões para confundir o leitor ingênuo, achando que se trata de certo romantismo aos modos de Goethe. Isso mesmo. É possível confundir o final, em que Manoel se suicida, por raiva ou amor a Lenita. Ora se o suicídio era um escape romântico às grandes paixões, então porque Manoel busca justamente este final?
No entanto, encontramos no texto um palavreado e gestos grosseiros para comprovar que o homem é mesmo um animal, mas há um perfume de selva que embriaga enquanto você lê. Existe um tom escandaloso e atrevido, sobressaem qualidades, como assinalou Manoel Bandeira no seu discurso na Academia Brasileira de Letras: “mereceu ficar, como tantos outros romances românticos e realistas, na história literária do Brasil.”
Curiosidade: Julio Ribeiro projetou a bandeira do estado de São Paulo.

 Aluísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo (1857-1913)


 No Brasil, a prosa naturalista foi influenciada por Aluísio Azevedo com a obra O mulato, publicado em 1881. Esta marcou o início do Naturalismo brasileiro e a obra O cortiço, também de sua autoria, marcou essa tendência.
Toda tendência tem influências. O realismo/naturalismo foi influenciado pelo Positivismo (Auguste Comte): teoria que diz que por meio da experiência se chega à verdade; Darwinismo: a teoria da seleção natural. Somente os mais fortes de cada espécie conseguem sobreviver, mostrado no livro A origem das espécies, do cientista natural inglês Charles Darwin no qual consegue chocar o mundo com suas pesquisas. A partir daí, os naturalistas passam a ter uma visão animal do homem que evoluiu e por fim o Determinismo em que o meio social e a herança genética influenciam o comportamento.
Mas vamos falar de Aluísio Azevedo. Nasceu em São Luís MA., o pai era vice-cônsul português. Aos 17 anos viaja para o Rio de janeiro e aí se estabelece como escritor,  dedica-se a dois tipos de literatura: uma para ganhar o público e vender bem; a outra para mostrar seu ideal naturalista.
Ironicamente meu caro leitor, esta última é que o torna famoso.
Destacou os aspectos mais repugnantes e grotescos da realidade, mostrando o ser humano como um animal, produto do seu meio social, de sua raça e de seu momento histórico. O cortiço, sua obra-prima, narra a vida miserável de habitações coletivas no Rio de Janeiro.
Contando com diversos personagens, é ele, o cortiço quem se faz personagem central na narrativa. Ele cria vida própria e ganha esfera. Há de um todo nesta torre de Babel, uma teia que vai amarrando e dominando a presa. Sob influencia darwinista é o mais forte quem obtém sucesso, a fêmea domina o macho, pois tem sobre este o poder da sedução. O meio corrompe o individuo. O ganancioso enriquece à custa da exploração dos homens.
Curiosidade: Em 1895, Aluísio, abandona as letras, torna-se diplomata e morre em serviço na Argentina em 1913.

Os dois romances mencionados acima já fazem parte do domínio público e se você gosta de ler no tablet (eu ainda prefiro folear as páginas de um livro)    poderá fazer download gratuito, porém se preferir como eu, virar as páginas de um livro  que não faltará bateria nunca, nem tampouco te deixará na mão, sugiro adquir um exemplar. As editoras tem excelentes exemplares e você certamente encontrará  um que caberá no seu bolso. Os que estamos lendo são da editora Martin Claret, com ortografia atualizada segundo o acordo ortográfico que passou a revigorar em 2009. Confesso, prefiro lê-los no original, naquelas primeiras edições, com vocabulário erudito. É uma delícia. Enfim, boa leitura.

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