quinta-feira, 25 de abril de 2013

Crônica 3 - Pontes

Pontes, velhas e pontes velhas.
By Leon Espindola Nozaki
    Não sou medroso, não sou corajoso. Ponte, nunca atravessei nenhuma. Mas conheço um homem corajoso, que, apesar das circunstâncias, resolveu cair nos braços do destino e atravessar certa ponte. Quando digo cair, digo não no sentido figurado, mas no literal.
    O que sucedeu foi que duas senhoras; senhoras mesmo, de bengalinha, dentadura; se encontraram em uma ponte para atravessar.
    – Você primeiro. – disse uma.
    – Não, vá você. – a outra disse.
    – Você, por favor. – a outra insistiu.
    – Vá, eu lhe peço. – a outra respondeu.
    – Por favor, vá à frente.
    – Ora essa. Não precisa ser tão gentil. Estou lhe pedindo que vá.
    – Primeiro as mais velhas.
    – Quantos anos você tem? 
    – Setenta.
    – Então vá à frente, por obséquio.
    – Quantos anos você tem?
    – Sessenta e nove anos e vinte e quatro meses.
    – Ora essa! Pensa que me engana? Você tem setenta e um anos! Vá à frente.
    – Não tenho não, já lhe disse senhora, que eu tenho sessenta e nove anos e vinte e quatro meses. 
    – Os mais novos primeiro, então.
    – Eu tenho setenta e um anos. Pode ir atravessando que palavra não tem volta.
    – Agora você admite!
    – Admitir o que? Essa é a minha idade. Vamos, andando.
    – Eu que não! Vá você!
    – Eu não! Se você não vai, por que logo eu?
    – Vá! Ande que tenho coisas para fazer!
    – Também tenho! Ande e vá à frente, se você é mulher!
    – Sou mulher não, sou senhora.
    – Você entendeu o que eu disse! Vá que minha filha está esperando por mim! Se eu não chegar, ela vai se aborrecer.
    – Vá.
    – Vá você!
    – Eu que o diga.
    Eis, então, que chegou meu conhecido para resolver o dilema.
    – Eu vou! – ele exclama certo de estar fazendo uma boa ação para a humanidade.
    Ele dá o primeiro passo, sem cair; ele dá o segundo passo, em segurança; ele dá o terceiro passo. Êxito!
    – Viram só? – ele diz, começando a avançar tranquilamente. É seguro...
    Ele não teve tempo de terminar. Nesse momento, a madeira cedeu sobre o peso daquele homem gorducho. O fato de ele ser gorducho o salvou de despencar; pois, em vez disso, ele entalou.
    – Quem te ajudou? – perguntei.
    – Ninguém. As senhoras ficaram discutindo quem devia atravessar. Depois de um tempo, um cidadão tentou me ajudar. No fim, ele também ficou entalado. Uma moça passou e ligou para o corpo de bombeiros. Eles não conseguiram. Tivemos que chamar o...
    – Tá bom, tá bom; já entendi.

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